Coisas da Vida - Predestinado!

Eu estava comendo uma linguiçinha frita, que delicia, quando ao colocar ela na boca, veio a pergunta, ela disse :

- Linguiça te lembra algo Dió?   (já sei, você já pensou em sacanagens!)

Sim, me lembrou de um amigo que encontrei anos atrás, o Jairo, ele me disse que iria abrir uma pequena fabrica de linguiça! Após isso, sem vacilar, devorei a infeliz!

Acredito que na adolescência todos nós, de alguma forma, conhecemos ou tivemos contatos com aqueles caras que tem “cheiro” de encrenca, aqueles que estão sempre esperando uma oportunidade para aprontar alguma, esse era o meu amigo Jairo.

O cara gostava de aprontar, durante um bom tempo de minha juventude esse foi um amigo constante, ele e também o Almir, eu tinha muitos amigos, mas estes eram os mais próximos e os que estavam sempre arrumando problemas.

Uma vez o Jairo decidiu entrar em uma casa abandonada aonde um dia morou o padeiro, o padeiro tinha esse apelido porque era padeiro, ale havia se mudado a pouco tempo e a casa se encontrava vazia, nos fundos havia um puxadinho que era um telhadinho apoiado em duas estacas, ai vem o Jairo não contente em já termos invadido a casa, ele com toda sua imaginação fértil, pegou um pedaço de madeira e desceu uma pancada em um dos lados da estaca que segurava o telhadinho, conclusão, o telhado todo veio abaixo, um puta estrago seguido de um puta barulhão.

Eu corri para os fundos da casa que dava para um barranco, desci o barrando e cai em uma valeta e fiquei de barro até os joelhos, sai pela rua de baixo e fui me esconder em casa.
O Almir, e o Jairo que fez a merda, ficaram lá dentro da casa, esperando não sei o que e se deram mal, isso porque ao lado da casa morava um cara da policia que foi lá, pegou os dois e levou para a delegacia, que mico, a mãe do Jairo e a mãe do Almir foram lá, para tirar eles da cadeia, quem ajudou tirar os dois de lá  foi um primo do Jairo que era do exército, isso tinha peso naqueles belos períodos de ditadura..

Eu como havia saído pelos fundos, fiquei livre da bronca da minha mãe, ela nem ficou nem sabendo, os dois tomaram um cacete das mães e eu fique “cagando nas calças”, com medo da minha mãe saber.

Andar com esses dois era duro, sempre tinha novidades, estudávamos em uma mesma escola e o pior na mesma sala, era E.E.Marisa de Mello, na Vila Aricanduva, aqui em São Paulo, capital, um belo dia nós três fomos encaminhados a diretoria por mal comportamento em sala de aula.
Isto é, falatório, bagunça, desinteresse em aula e por ai segue, o diretor era um japonês linha dura, nós três na diretoria levando esporro do diretor.

Imagine a cena :
O diretor com os dois pés em cima da mesa olhando pra gente e soltando o verbo, e não parava de falar, chegou uma hora que eu disse, se ele quiser me suspender tudo bem, mas eu não ia ficar ali tomando canseira, esporro e o cara ainda tirando onda com a nossa cara.

Ele deu uma dura em todos nós e também a suspensão, ele anotou tudo no livro  e passou suspensão para os três, cada ficou com uma para a mãe assinar .

Ele gostava de posar de durão, de “fodão”, ele falou para aguardarmos na sala e deu uma canseira na gente, nunca que voltava, saiu e cometeu o erro de deixar nós três sozinhos na sala. 

Passou uns quarenta  e cinco minutos e nada, o cara sumiu, o Jairo com sua mente criativa, pegou o grande livro negro de capa dura, aonde se anotava as advertências e suspensões de toda a escola, abriu o livro e deu um grande e profunda cuspida no meio do livro colando as folhas, e com cara de desforra vigiava a porta enquanto pedia pra gente fazer o mesmo, e porque não? Uma cuspidinha não iria fazer mal.

Uma hora depois ele voltou, pedindo que pegássemos nosso material e fossemos embora porque estávamos suspensos, sabe,  no fundo, aquela cuspida foi a melhor coisa que poderia fazer.

Apesar das loucuras do Jairo, foi ele que me indicou para um teste em uma grande empresa aonde, aonde   fiquei trabalhando por 14 anos, como ele não gostava muito de chefes, logo após eu entrar ele foi demitido, com certeza deve ter aprontado alguma.

Anos depois ele entrou para a policia, imagine o Jairo policial, depois de aprontar algumas também foi expulso da corporação, como vê, o cara era predestinado a fazer merda.

Tenho muitas histórias com essa dupla, na escola, no bairro, nas festa, se fosse colocar aqui daria para escrever um livro.
Vou contar uma de festa, as festas nessa época eram feitas nas casas, os ditos “bailinhos”, um quintal, uma lona, um aparelho toca-discos, discos, uma luz negra, algumas bebidas e convidados e a festa estava feita.
Uma Vez fomos os três na festa na casa do Mané, um monte de meninos e meninas dançando ao som de Lps, os conhecidos long play, bolachão.

O Jairo parecia ter merda na cabeça, parecia não, tinha merda na cabeça, você andava com ele e via cada uma, estávamos tomando uma “cuba” e observando o movimento da festa, eu, o Almir e ele, e ele ali matutando em como aprontar a próxima.
Estávamos do lado dos disco, então que genial ideia teve o Jairo, quando via que ninguém estava olhando, ele tirava o disco da capa e metia a pulseira do relógio só para ver o disco riscado, no mínimo, que eu vi, ele riscou uns dez lps, coitado do Mané, que prejuízo.

Pensando nisso após passados todos esses anos, chego a conclusão de como éramos imbecis, ele aprontando e a gente assistindo, eu não era nenhum santo, eu aprontava também, mas igual ao Jairo, nunca vi igual.

Uma vez na escola, era intervalo de aula, e o esperto aqui para zuar um  pouco, tirei o tampão do forro da sala entrei dentro, colocava a cabeça para fora e tirava onda com os outros alunos que estavam ali na sala sentados nas carteiras, imagine só a cena.

Eu dentro do forro da sala zuando, mas para a minha sorte o professor apareceu,o que eu fiz, coloquei a tampa no forro e fiquei lá dentro uma aula toda, em silêncio, só sai de lá quando acabou a aula e o professor saiu da sala.

Com o passar dos anos surgiram as novas amizades, fui amadurecendo, acalmando e me distanciando e cada foi seguindo seu caminho, até que  perdi o contato, tentei achar eles no orkut, mas nada, não sei eles são adeptos a internet, informática, a ultima vez que vi o Jairo foi aqui no bairro, ele me disse estar montando uma pequena fabrica de lingüiça.

Jairo fabricando linguiça? Me diz, depois de tudo que contei a vocês, vocês teriam coragem de comer uma linguiça feita pelo Jairo?

Para ter uma segunda opinião sobre o assunto, liguei para o meu amigo o João, o telefone tocou e tocou e  nada, tente ligar alguns minutos depois e ele atendeu e o papo rolou assim :

Fala João, aqui Dió beleza? Pô João, estou tentando te ligar e você não atende o telefone.

- Cara estou com caganeira do cacete, não saio do banheiro, fui comer a porra das linguiças do Jairo?

Antes de ir quero deixar esta pra vocês  pensarem :