Coisas da Vida - Brincadeiras de crianças !

Eu estava vendo algumas coisas que estavam guardadas no baú, e achei um ioiô, você sabe o que é ioiô?
Com certeza você deve ter visto um em algum museu por ai, quando ele me viu, abriu um sorriso e disse :

- E ai Dió, veio matar as saudades, quer brincar um pouco comigo, sendo que respondi :

Você tá enganado, te encontrei aqui por acaso, você já esta ultrapassado, virou peça de museu, a brincadeira da criançada hoje é outra, agora fica por ai, depois a gente se fala, ele me olhou um tanto triste, com lágrimas nos olhos, mas ficou ali resignado.

Depois de fechar a gaveta vim aqui escrever um pouco e o assunto não poderia ser outro senão infância e brinquedos.

As vezes fico pensando as diferenças que temos de uma infância de 35, 40 anos atrás para a atual, um exemplo é o ioiô o que é um barbante enrolado em um carretel de plástico, a brincadeira consiste em enrolar e desenrolar, sobe e desce, que merda né, mas era top na época, tivemos até campeonatos mundiais, quem diria né?

Só para se ter uma ideia de como as coisas estão evoluindo, os primeiros computadores só se começou a ouvir falar na década de 80, hoje temos computadores pessoais e de ultima geração e o que dizer dos games, temos jogos muito desenvolvidos, tanto em áudio como em gráficos, temos também programas para pc de tudo quanto é jeito e para tudo que se possa imaginar, celular com todo tipo de aplicativos, mas a 35, 40 anos atrás, a coisa era bem diferente.

E não fica tirando onda não, que daqui a 30, 40 anos, você vai ser tiozinho e vai se lembrar dos tops de hoje e relatar a coisa como peças de museu  é ou não é?

Voltando ao assunto, os jogos que tive na minha infância comparado com tudo que se vê hoje chegam a ser ridículos, bizarros, veja alguns exemplos:
Jogo de bolinhas de gude – Bolas de vidros, a diversão era tomar distância, jogar a bolinha, e o objetivo é fazer ela rolar para cair dentro de buraquinhos feitos no chão de barro.

Tinham também competições, cada competidor partindo de um ponto especifico jogar sua bolinha de vidro para acertar a bolinha do outro, se acertasse ganharia a bolinha do competidor e assim juntaria um monte delas, a coisa funcionava mais ou menos assim.
O perigo do jogo era a criança enfiar a bolinha na boca e engolir e ai se por acaso ela passar pela garganta, o trabalho era da mãe, ela teria que ficar peneirando merda para ver se a bolinha havia saído.

Futebol de pregos – O pai do menino pegava uma madeira retangular e isso era o “campo”de futebol, tinha campo de tudo quanto é medida, não havia preocupação com tamanho, era tudo de qualquer jeito, se pintavam o fundo da madeira, se faziam as marcações do meio de campo, laterais, os gols, e pronto já servia.

Os jogadores eram “pregos” espetados na madeira, mais ou menos nas “posições”, como se fossem os jogadores reais.

Os campos tinham as mesmas quantidades de pregos dos dois lados, 11 pregos, o goleiro era um prego espetado no meio do gol, os meninos "mais ricos" colocam pregos de varias espessuras representando jogadores, os pobres enfiavam qualquer tipo de prego, de qualquer tamanho e até pregos enferrujados, a bolinha do jogo, imagine, uma moeda e o jogo era jogado com o dedo, você com o dedo indicador empurrava a moeda em direção do gol adversário e a quantidade de toques intercalados era combinado entre os dois jogadores, um toque cada, ou dois toques seguidos cada um.

O objetivo era jogar a moeda dentro do gol adversário, e ai conseguindo isso obviamente você fazia o gol, o perigo do jogo era ao chutar “arrebentar” o dedo nos pregos, você que joga os games de ultima geração, imagine como era isso.

Jogo de Pião – Um pedaço de madeira com um prego na ponta, no formato de um funil com um barbante enrolado , veja a ilustração que se vai entender, que “maravilha” era jogar pião.

Para fazer ele girar você enrolava um barbante em volta dele, e tinha um jeito especifico para jogar para fazer com que ele ficasse girando, ganhava quem fizesse ele ficar mais tempo rodando.
Os menino com um pouco mais de grana, tinham piões todo personalizado, com pinturas coloridas, barbantes especiais, os duros tinham piões descascados, lascados e sem cor nenhuma, pura madeira.
Os piões eram jogados dentro de um espaço traçado no chão, tinha também um outro tipo de jogo de pião que os pobres gostavam de jogar, os meninos concorriam entre si, o pião era jogado em um espaço “tipo arena” o menino que vinha depois, jogava seu pião contra o pião do outro e com isso chegava a lascar e até quebrar o outro pião.

Dependendo da força com que o pião era jogado e se a ponta do pião do menino pegasse no pião do outro, com certeza iria no mínimo trincar o pião do adversário, digamos que era um jogo para ver a apontaria do jogador e a resistência dos outro piões.

Eu disse que os duros gostavam desse jogo porque os piões eram de madeira, coisa barata, os piões dos outros meninos " ricos" eram coloridos, cheios de coisas, os duros "iam a desforra" destruindo esses piões, na realidade a molecada sem grana, treinava muito só para destruir esses piões.

Imagine como era a cabeça da criançada na periferia, eram considerados "ricos", alguns garotos só por terem um brinquedinho melhor, hoje a molecada tem celular, games, lá atrás eram essas porcarias que tínhamos para nossa distração, essa era periferia a 35 / 40 anos atrás.
O perigo do jogo de pião era o pião bater no chão e voltar na sua cabeça, ou canela, poderia também acertar a cabeça do amiguinho, a dor era terrível.

Na periferia a turma era tão “caída”, tão sem grana que as crianças viam as diferenças sociais

através dos brinquedos que possuíam, pode isso, apesar que hoje em dia a coisa não é muito diferente, tem coisas que não mudam.

E ai, quer trocar seu game de ultima geração, seu tablet, celular, por um joguinho de bolinhas de gude, ou que tal um joguinho de futebol pregos, um piãozinho, bolinhas de gude, pipas, estilingue, etc, que merda né, se a gente for pensar, eram coisas muito "toscas", simples, mas no fundo que era legal, era.
Decidi ligar pro João aquele meu amigo para ter uma segunda opinião sobre o assunto, ele não estava em casa, atendeu o celular muito rápido e disse :

Tudo bem ai Dio, eu tô ocupado aqui empinando pipa, assim que possível eu retorno a ligação.

Antes de ir quero deixar esta para você pensar :

Coisas da Vida - O boteco do Antonio !

Meus amigos sabem que eu raramente bebo, só as vezes e socialmente, como ninguém é de ferro,  tomo umas só para relaxar um pouco, eu estava assim, de saco cheio e peguei uma latinha de cerveja na geladeira e ao abrir a lata ela disse :

- Dió, valeu por ter me tirado do boteco do Antonio, já fazia meses que eu estava lá e ninguém me consumia, a turma só vai de pinga,  cachaça, rabo de galo, bombeirinho e por ai segue. eu estava ali esquecida, valeu mesmo.

Agradecimentos a parte, mandei ela prá dentro, depois vim prá cá para escrever um pouco.

Acredito que em bairros de todas as cidades, desde a menores do nosso pais, tenha um boteco e o que não falta neles é cachaça , aonde moro tem um desses, é o bar do meu amigo Antonio, ele foge um pouco as regras pelo tamanho, pela variedade de produtos que ele oferece e pela originalidade de seu visual.

Antonio tem um pouco mais de 64 anos, forte, tem ainda um pouco de sotaque nordestino quando fala, poucos cabelos que ainda lhe restam são brancos, usa um óculos que lembra o do Virgulino Lampião, aquele.

Ele veio do nordeste nos anos 70 para São Paulo para trabalhar, se aposentou a pouco tempo, mas como os papeis da aposentadoria ainda estão correndo, prá sobreviver ele resolveu abriu o boteco.

Antes quero falar do boteco, olhando de frente ele tem 3 metros de largura por 3 de comprimento e uns 5 metros de altura e o local do boteco é um imóvel bem antigo.

No centro do “comércio” do Antonio tem ainda uma mesa de bilhar, mal sobra espaço para passar, os clientes dele tem que beber de pé, pois se colocar banquinhos, não sobra o espaço para se jogar bilhar.

A mesa de bilhar é das pequenas, só poderia né, nos quatros pés da mesa tem calços porque já foram devorados por cupins, como o espaço no bar é minúsculo, as caixas de bebidas cheias e vazias ficam por baixo da mesa, até para esticar o taco para jogar o espaço é difícil e se tem pedir para os clientes saírem fora do bar para se ter mais espaço para quem esta jogando, se é que isso é possível.

Do teto desce um cordão aonde na ponta tem uma lâmpada daquelas amarelas e quando acesa chega até queimar o couro cabeludo de quem esta jogando.

No fundo do bar tem um balcão em forma de L, em cima tem uma pequena maquina de café que nunca foi usada, me diz um bar aonde bebum toma café.

As vezes nas sexta-feiras a noite tem a reunião da moda de viola, os amigos dele, tocam o sertanejo tradicional (o verdadeiro), se reúnem, fazem um churrasquinho, ficam tocando, bebendo e cantando até altas horas, aquilo é uma forma da turma se divertir, beber e ele ter um ganho a mais.

A maioria dos “clientes” dele é gente que pega no pesado, e logo as 7h ,8h da manhã já estão tomando umas pingas pra esquentar, sem falar nos cachaceiros de plantão.

Nas paredes do bar tem um monte de poster, ele usa isso para esconder os buracos de pregos, parede de imóvel antigo quando você coloca prego o buraco aumenta e a parede esfarela feito paçoca, os pôster que tem são das “musas” dos anos 80. 

A outra linha de posters são dos bregas e dos sertanejos,  Fernando Mendes, Odair José, Sérgio Reis, Zé rico e Milionário,Trio parada dura, etc, todos amarelados pelo tempo e pelos respingos de bebidas . 

Ele gosta muito de musicas, a quantidade dos lps e compactos que ele tem distribuídos por prateleiras em volta do bar é de surpreender qualquer colecionados, as vezes obesrvo aquilo e não sei como as prateleiras suportam tanto peso, não sei como aquelas paredes ainda não caíram.

Lps dos saudosos Paulo Sergio, Waldik Soriano, Luis Gonzaga, e de muitos outros que já encerram a carreira e outros mais que eu desconheço a origem, 90 % dos artistas que estão nos lps e compactos já morreram a mais de 15 anos.

Antonio é gente boa, nas horas vagas em que o bar fica sem clientes, que são quase todas as horas do dia, além dele fuçar nos discos, ele gosta de ficar mexendo em aparelhos de som, aqueles antigos, os toca discos, toca-fitas, 3 em 1, vhs também, geralmente ele abre os aparelhos para "arrumar" e depois não consegue fechar, sobram muitas peças, ele encosta esperando quem sabe um dia possa encontrar algumas delas e arrumar o que restou e com isso a pilha de tralhas só aumenta .

E as pingas que ele vende então, tem de todo tipo, e a maioria com um monte de coisas dentro, tem as com ervas, as “amargosas”, alem de deixar o cara bêbado serve para tirar a dor de estômago, azia, queimação, e por ai vai, é o que ele diz.

Tem uma especial a da cobra, ele arrumou uma cobra não venenosa sei lá aonde, enfiou a bichinha na garrafa, colocou cachaça e diz que é afrodisíaco, a cobra tá até descorada de tanto que tira e põe pinga, e tem os "pé inchado" do pedaço, que bebe aquilo e ainda acha bom.

Tem pinga com folhas de erva doce dentro, com cabeças de alho, pinga com folhas de hortelã, com gengibre, cebola, com maracujá, com limão, bebum que passa por lá não vai ter desculpas para não beber.

Tira gosto então, tem uns que já comemoraram aniversário de tanto tempo que estão no vidro, tem cebolinhas em conserva, pepinos, tem sardinhas na conserva, o tradicional tremoço, tem porções de amendoim, tem caldo de mocotó, torresmo, mas o top da casa é ovo de codorna cozido.

Eu fico imaginando o bafo do cara que já tomou umas 5 pingas e que comeu uns 8 ovinhos cozidos daqueles, dá para imaginar o cheiro do peido do cara, e quando ele vai para o banheiro dar uma cagada, o cheiro de merda fermentada com pinga ao creme de ovinhos de codorna cozidos, fodeu.

Para incrementar mais a venda dos ovinhos o Antonio coloca corantes para a casca ficar colorida, no vidro em exposição ficam aqueles ovinhos brilhando de cores alegres para a escolha dos seus fregueses, bebum depois de algumas doses, come até a tampa do vidro.

E o mijadouro então, o Antonio colocou um mijadouro dentro do bar em um cantinho, é uma paredinha com uma portinha de abrir e fechar só pro cara dar uma mijada relâmpago, o cara não pode cagar ali não tem assento, o mijadouro é daqueles de parede, os convencionais, a água ele joga com uma velha caneca, o pior é que o mijo de bêbado fica ali acumulado e vai fermentando, pra quem vem e entra no boteco o cheiro de mijo é tão forte que chega a arder o nariz, parece que só o Antonio não sente, aquilo fede tanto que é bom para quem tem "carne esponjosa" no nariz, é ficar trancado ali que o acido que fica no ar corrói a tal da "carne esponjosa", corrói o cérebro, corrói o pinto, corrói tudo.

Antonio é gente boa, batalha para sobreviver, se você estiver interessado é só dar uma passada por aqui e dar uma chegada até o bar do Antonio, você pode jogar um bilhar, tomar umas pingas, quem sabe comer uns ovinhos de codorna, falar de musicas bregas,  ouvi-las também, com certeza o Antonio e os seus amigos vão te receber de braços abertos.

- Seja bem vindo, " CABRA BOM !"

Essa vou deixar prá vocês pensarem :