-Tá olhando, algum "pobrema, perdeu alguma coisa aqui?
Naquele momento, quando ela citou a frase "pobrema", me veio a lembrança do Biriba, um vendedor de esfihas e salgadinhos na rua 7 de Abril, no centro de São Paulo, capital, no fim dos anos 70, ele dizia, se o seu "pobrema" é fome eu tenho a "solucionática".
Nos fim dos anos 70 começo dos anos 80, eu comecei a trabalhar em uma agência de publicidade como boy, uma agência internacional que até hoje esta no mercado, prefiro na citar o nome, era um de meus primeiros empregos no centro da cidade de São Paulo, eu era boy, boy era aquele pivete que fazia de tudo na empresa, entregava correspondências, comprava cigarro para o chefe, pagava as contas da família do chefe e era exploração por todos, era o faz tudo, mais conhecido como couro de pica, ia prá cima e prá baixo sem parar o dia todo.
Estava começando minha "carreira" de boy, e boy era um dos que menos ganhava na empresa e um dos que mais trabalhava, ele ia prá cima e prá baixo com a tal mala 007 que era moda na época, sonho de consumo de todo office boy.
Na hora do almoço, com o que eu ganhava eu tinha duas opções, ou comia no boteco "pé prá fora", pelo nome você imagina o que era o tal pé prá fora, para um entrar para fazer o pedido, dois tinham que sair, a especialidade da casa era salsicha ou linguiça no pão acompanhados pelos "deliciosos" sucos aguados sabor laranja ou como opção de outros sabores você tinha suco de algo parecido com outra coisa de sabor indefinido , o problema no pé prá fora era o preço um pouco mais caro que o outro concorrente.
Como concorrente direto eles tinham "As esfihas do Biriba!", com um preço mais em conta e com salgadinhos não digo de melhor qualidade, mas a quantidade de massa "estufava", enganava o estômago e dava prá levar o trampo que era "pesado" até o fim do dia sem se sentir muita fome, era correria o dia todo, prá lá e prá cá.
Eu preferia comer no Biriba, o Biriba tinha um cantinho no bar da esquina, nem cantinho era, era um pequeno carrinho, com uma luz que além de servir prá freguesia ver os produtos, também servia prá deixar os salgadinhos quentes, eram esfihas abertas e fechadas, empadão, esse empadão era do tipo 90 % de pelota de massa de farinha e água e 10% de recheio, você comia e dava um nó nas tripas, o suco servia prá empurrar prá baixo, kibes, bolinhos de carne, coxinhas etc, era uma delicia aquelas esfirras abertas e crocantes do Biriba, eu achava.
O Biriba era uma figura, lembrava aqueles bicheiros com correntes no pescoço, no pulso, relógios baratos, cabelo repartido de lado, sempre brilhando, tipo fritou bacon no porão, sempre com seu avental azul com a lateral descosturada, caneta e bloquinho no bolso, a vantagem em comer no Biriba era que se você não tivesse dinheiro na hora, comia fiado, pagava depois.
Uma bela manhã, uma garoa fina cobria São Paulo e ia eu pela rua 7 de Abril, rua em que trabalhava, pouca gente circulando era cedo ainda, subindo a rua, fico observando uma bicicleta,destas que tem um cesto metálico na frente e que serve para carregar coisas, ela passou por mim e um pouco mais a frente, o pneu bateu em um buraco e a caixa de papelão que estava no cesto pula e cai de "boca" prá baixo no asfalto molhado, o condutor da bicicleta, para, fica de joelhos e arrasta algumas coisas que caíram e estavam embrulhadas em jornais, coloca de volta na caixa, põe no cesto e segue a viagem.
Eu ali continuava a observar o trajeto da bicicleta, que logo a frente parou no bar da esquina, justamente aonde o Biriba tem seu cantinho e que ali vende seus salgados, fiquei curioso acompanhando o movimento, ao me aproximar, percebi que aquela caixa que havia caído no chão estava em cima do balcão do Biriba, e embrulhado nos jornais estavam as "deliciosas" esfirras e salgados crocantes, aquelas que o Biriba vendia.
No momento tive um choque, era uma mistura de vontade de vomitar, diarreia, vertigem e desespero,
pensei comigo, tanto tempo comendo aquela porra daqueles salgados, se era transportado dessa forma, embrulhado em jornais, imagine então como eram feitos, afinal, o que eu andava comendo.
Disfarcei prá ele não notar que eu havia visto ele desembrulhar aquelas merdas dos jornais, isso porque ele também não sabia que aquilo havia caído na rua e recolhido de qualquer jeito, mas mesmo que soubesse com certeza venderia aquilo da mesma forma, Biriba nunca foi "politicamente" correto.
Depois do choque, agradeci a Deus por ainda estar vivo depois de comer aquelas coisas, e nunca mais apareci ali no Biriba, ele começou a sentir minha falta, uma bela manhã ao passar ele me parou, me cumprimentou e fez a pergunta :
- E ai Dió, não apareceu mais, aconteceu alguma coisa, tem algum "pobrema", você não comeu mais aqui, você sempre foi meu "criente" numero 1?
Fiquei meio sem graça, precisava pensar em uma resposta rápida :
- Não tem problema alguma não Biriba, é que agora tô trazendo marmita, prá economizar, você entende né? O Biriba me olhou com tristeza, afinal, havia perdido um grande e fiel cliente e eu por sua vez ganhado mais alguns anos de vida, afinal, o que será que eu andava comendo, de que forma e como era feito a porra daqueles salgados ?
Antes de ir quero deixar esta prá você pensar :
O Biriba era uma figura, lembrava aqueles bicheiros com correntes no pescoço, no pulso, relógios baratos, cabelo repartido de lado, sempre brilhando, tipo fritou bacon no porão, sempre com seu avental azul com a lateral descosturada, caneta e bloquinho no bolso, a vantagem em comer no Biriba era que se você não tivesse dinheiro na hora, comia fiado, pagava depois.
Uma bela manhã, uma garoa fina cobria São Paulo e ia eu pela rua 7 de Abril, rua em que trabalhava, pouca gente circulando era cedo ainda, subindo a rua, fico observando uma bicicleta,destas que tem um cesto metálico na frente e que serve para carregar coisas, ela passou por mim e um pouco mais a frente, o pneu bateu em um buraco e a caixa de papelão que estava no cesto pula e cai de "boca" prá baixo no asfalto molhado, o condutor da bicicleta, para, fica de joelhos e arrasta algumas coisas que caíram e estavam embrulhadas em jornais, coloca de volta na caixa, põe no cesto e segue a viagem.
Eu ali continuava a observar o trajeto da bicicleta, que logo a frente parou no bar da esquina, justamente aonde o Biriba tem seu cantinho e que ali vende seus salgados, fiquei curioso acompanhando o movimento, ao me aproximar, percebi que aquela caixa que havia caído no chão estava em cima do balcão do Biriba, e embrulhado nos jornais estavam as "deliciosas" esfirras e salgados crocantes, aquelas que o Biriba vendia.
pensei comigo, tanto tempo comendo aquela porra daqueles salgados, se era transportado dessa forma, embrulhado em jornais, imagine então como eram feitos, afinal, o que eu andava comendo.
Disfarcei prá ele não notar que eu havia visto ele desembrulhar aquelas merdas dos jornais, isso porque ele também não sabia que aquilo havia caído na rua e recolhido de qualquer jeito, mas mesmo que soubesse com certeza venderia aquilo da mesma forma, Biriba nunca foi "politicamente" correto.
- E ai Dió, não apareceu mais, aconteceu alguma coisa, tem algum "pobrema", você não comeu mais aqui, você sempre foi meu "criente" numero 1?
Fiquei meio sem graça, precisava pensar em uma resposta rápida :
- Não tem problema alguma não Biriba, é que agora tô trazendo marmita, prá economizar, você entende né? O Biriba me olhou com tristeza, afinal, havia perdido um grande e fiel cliente e eu por sua vez ganhado mais alguns anos de vida, afinal, o que será que eu andava comendo, de que forma e como era feito a porra daqueles salgados ?
Antes de ir quero deixar esta prá você pensar :
Nenhum comentário:
Postar um comentário