Coisas da vida - Eu tive fuscas !

Estava fuçando em uma das minhas gavetas de tralhas e encontrei um gibi velho, desfolhando a revista, passei por um anuncio antigo que "falava" do fusca, ele me chamou a atenção e disse :

- E ai Dió tudo bem? Minha imagem não trás boas lembranças de sua juventude, Me disseram que você teve um desses igual a mim.

Assim que ele disse isso, revoltado, rasguei o gibi ao meio e joguei no lixo, isso me trouxe más recordações.

Havia um período que você só via fuscas pela ruas, de cada dez carros sete eram fuscas, o meu primeiro "carro" foi um fusca 63, vermelho puxado para a cor vinho, pensando bem, sei lá que merda de cor era, os carros tinham uma cor meio opaca, sem brilho, cores estranhas, não é igual as cores que temos hoje, isso em meado dos anos 80, então faça as contas, em 1980, um fusca 1963, quer dizer que quando comprei ele, ele já tinha 17 anos "de vida", e 17 anos rodando nas ruas e estradas esburacadas, podemos acrescentar mais uns 20 anos, você consegue imaginar o  estado que estava esse  meu "veiculo" ?

Eu não tinha grana na época, se tivesse não compraria um carro podre com 17 anos de uso, e ainda paguei o carro em 12 longos e infinitas prestações, tudo em notas promissórias.

O fusca tinha o assoalho todo podre e cheio de buracos, no fusca a bateria fica embaixo do banco traseiro, as baterias da época não eram lacradas como as que se tem hoje, elas tinham botões de rosca para se colocar água, a porra do ácido que sempre que vazava, caia no chão do carro e corroía tudo, apodrecendo e deixando o assoalho do "veiculo" com buracos. Eu tinha amigos que aonde ficava a bateria no carro, o cara mandou reforçar o assoalho com placa de metal, colocava tapete de borracha, era de pneu, era um vale tudo pro fundo do assoalho não cair de podre.

Dias de chuva era um inferno, água entrava por baixo do carro que estava cheio de buracos e molhava tudo, o limpador de para brisa era uma merda, limpador de para-brisa, para quem não conhece, é aquela varetinha emborrachada que limpa o vidro da frente que vai e volta, vai e volta. Ele limpava o vidro de acordo com a velocidade do motor, quando mais rápido você ia, o limpador aumentava a velocidade no seu vai e vem, dá pra imaginar um treco desses?

Quando chovia muito e o transito estava parado o limpador ia e vinha lentamente , se chovia muito e o transito livre, e se eu andasse um pouco mais rápido, o limpador ia tão rápido no seu movimento de vai e vem que chegava a bater na lataria lateral do para brisa, um terror. Eu acelerava a "maquina",
e chegando perto dos 100 km, o bicho começava a vibrar, parecia uma britadeira. 

Uma vez eu vinha de madrugada das minhas festas com amigos e chovia, como eu andava rápido , rápido naquele tempo com um fusca, era no máximo 90 por hora, de tanto o limpador bater nas laterais, um deles caiu no meio da pista e para seguir viagem e tentar ver alguma coisa, o “mané” aqui colocava a cabeça para fora tomando chuva na cara para conseguir ver, e tentar chegar em casa, imagina que cena bizarra, eu devagar com a cara meio fora do carro, tomando chuva, todo molhado.

O carro era uma grande, imensa dor de cabeça, começando pela bateria, era só o motor do carro esquentar um pouco o carburador parava de injetar gasolina e o carro parava instantaneamente aonde estivesse, era como um ataque cardíaco, apagava na hora, esses carros mais antigos tinham esses problemas, esquentava e parava, tinha gente que andava com água e um paninho, assim que o carro parava, ia lá, abria o motor, colocava o pano molhado para resfriar o carburador e depois de algum tempo o carro voltava a funcionar.

Você consegue imaginar isso em dias de chuva, ou em locais escuros e perigosos, é amigo, você tem que dar graças a Deus pelo seu carrinho popular que não tem mais estes problemas.

Uma vez fui jogar bola e o carro estava cheio, não deu outra, ao atravessar uma grande avenida aqui em São Paulo, o carro lotado, com o esforço do motor para carregar aquele bando, aqueceu e adivinha o que aconteceu?? Isso mesmo, ele parou atravessado no meio da avenida, e ai tivemos que empurrar e encostar o carro e esperar esfriar um pouco o carburador para seguir, só passei vergonha com aquele carro.

Uma outra vez eu e meu “amigo” Edgar estávamos voltando de uma noitada e eu estava com meu fusca, o local eu não conhecia, o meu "amigão" havia bebido muitas e disse :
Vai por aqui e entra a esquerda que iremos sair na Av. Marginal Tiete, vai que  eu conheço.
Lá fui eu, quando entrei a esquerda, o que aconteceu, adivinha de novo.
Entrei na contra-mão e dei cara com um monte de carros vindo em minha direção, apavorado dei ré, bati com a traseira do fusca na ilha no meio da pista, ainda bem que deu para voltar ao sentido normal, ufa...que susto.

Uma vez eu tinha ido na casa da avó da minha namorada, hoje minha mulher, fiquei parado no carro aguardando ela voltar, isso foi na Vila Matilde, zona leste de São Paulo, eu no carro ouvindo rock em fitas k7,  sem risos, isso era top da época, estava ali distraído ouvindo musicas e esperando ela no carro, olho pelo retrovisor e vejo uma perua Kombi vindo em zigue- zague, achei que o cara estava em alta velocidade na curva e por isso acontecia aquilo, estava enganado o cara estava bêbado e o que aconteceu? O cara veio, bateu no para-lama do fusca e foi parar na calçada do outro lado, o para-lama do fusca desse período de fabricação tinha o dobro de lata que tem os carros de hoje, ele bateu atravessou a rua, eu sai da minha “maquina” e tentei chegar até o cara da perua.

O cara sabia ao que havia feito e tentava fugir, quando percebi, peguei um porrete dei uma paulada no vidro de trás do carro dele, ele havia ficado com a Kombi travada em uma pequena arvore, mesmo assim, acelerando ele conseguiu escapar, me deixando com o prejuízo da batida.

Como vê bêbados dirigindo é coisa antiga, primeiro inventaram os bêbados, depois os carros.

Foram muitos acontecimento engraçados, o carro era um verdadeiro lixão, os vidros não abriam direito, sempre estava comprando maçanetas internas, porque, como o vidro emperrava, eu fazia força para abrir e as maçanetas quebravam. Já fiquei na mão com a quebra do cabo de acelerador, quebra de cabo de embreagem, fiquei na mão até por furo no cano aonde passa o óleo de freio,
foi mais trabalho do que prazer.

O pior eram os freios, eles eram a lona,”estilo” freio de bicicleta, em dias de chuva aquilo molhava, quando você ia frear, ele molhado não respondia, e o carro deslizava por metros, você tinha que ficar “bombando” para ver se o carro parava.

Aquilo nem carro era, era um curso de mecânica de automóvel, toda semana tinha alguma coisa para consertar, você tinha que guardar dinheiro para a gasolina e também para o mecânico, para o auto-elétrico, para o borracheiro, fusca era a alegria dos mecânicos.

Vem você e reclama que seu carro não tem o som da “hora”, sem gps,  esta sem dvd, sem cd player, imagine você andando em um fusca desses, ouvindo fitas k7, freio a lona, o  carro era desconfortável, acho que você iria ficar maluco.

O que eu não entendo é que hoje em dia com tanta tecnologia , carros com freios disso e daquilo, cambio automático, carro motor flex, gps e por ai vai, e tem gente que ainda compra fusca.

Liguei pro João prá saber a opinião dele a respeito do assunto, a avó dele disse que ele saiu, foi levar o fusca pro mecânico.

É... tem gosto para tudo, vai tomar no fusca, vai um 63 ai?