Eu estava em um daqueles dias, triste, repensando o passado, com você as vezes também acontece isso?
Era uma mistura de sentimentos estranhos, sabe quando parece que a gente deixou algo perdido lá atrás, talvez uma parte de nossa identidade, um pouco das nossas
emoções, era assim que eu me sentia.
Eu estava a desfolhar um álbum de fotos antigas a procura de algo que não sabia definir muito bem o que era, quando me deparei com aquela imagem, uma foto amarelada da minha tia Olga.
Ela olhou prá mim e disse :
- E ai sobrinho, vai um chocolatinho no capricho ?
Tia Olga era engraçada, era uma mulher sistemática, tudo sempre do mesmo jeitinho, na mesma hora, quando você ia na casa dela e se fosse pela manhã, você assim que chegava, ela vinha até você, lhe dava um beijinho no rosto, e dizia :
- Já sei queridinho, prá você eu vou fazer aquele chocolatinho delicioso com aquelas bolachinhas que você adora, espera, há eu tenho também guardado aqui umas coisinhas que eu sei que você vai gostar.
Ela sempre foi muito prestativa e atenciosa, mas o problema era aquele chocolate, eu não sei de onde ela tirou a idéia que eu gostava daquilo.
Aquele negócio era horrível, ela colocava 4 colheres bem cheias de chocolate em um copo de leite pequeno e aquilo virava um barro, a coisa ficava tão grossa que mal dava para engolir e imagina depois de consumir aquela argamassa o que acontecia na barriga, juntando aquilo com ‘biscoitinhos” de fubá caseiro da titia Olga, e mais um monte de tranqueiras, meu amigo, era banheiro na certa.
Tudo aquilo misturado começava a borbulhar dentro da barriga, trabalhoso era fazer aquela coisa sair, o pior é que eu ficava tão ressecado era traumatizante ir ao banheiro após comer e beber aquilo, resultado, sempre entupia a privada.
Essa era minha tia Olga , uma senhora de mais de sessenta e cinco anos, com vigor de mulher de trinta, principalmente em se tratando de limpeza.
A casa dela era um brinco, parecia com uma dessas casas de exposição aonde nada havia sido tocado, tudo limpinho e brilhando, também pudera, ela era muito chata com limpeza, caia um cisco de pão e lá vinha ela com sua “vassoura mágica” e varria, algo voava no quintal e lá ia ela correndo prá varrer, ela tinha uma coleção de materiais de limpeza na casa, tudo quanto era coisa que havia sido criada pelo homem durante o último século para limpeza, na casa dela você encontrava.
Eram esponjas, paninhos, flanelinhas, pastas para assoalho, ceras, água sanitária, sabão em pó de diversas marcas, sabão em pedra de diversos tipos e cores que dava para construir a muralha da China, ela colecionava desinfetantes como se coleciona perfumes, na área de serviço da casa dela tinha mais produtos de limpeza que em supermercado, os panos de chão dela eram mais brancos que os panos de prato da minha casa.
Ela era a alegria daqueles carros que vendem produtos de limpeza de porta em porta, gastava uma grana preta com tudo isso, também pudera, ela era viúva do meu tio que era militar e recebia uma boa aposentaria, como não tinha aonde gastar, ela diversificava seus gastos com limpeza e tralhas.
Ela era vaidosa, na velha penteadeira que ela tinha em seu quarto, você encontrava tudo quanto é produto de beleza.
Na penteadeira tinha tanta porcaria junto, que eu ficava preocupado com alguma reação química e a explosão que poderia acontecer no quarto, tinha grampinhos para prender cabelo de diversas marcas, dava até para vender por peso no ferro-velho, laquês então, ela tinha mais laquê ali em cima do que latas de spray na mão de pichador.
Perfume tinha tantos, que alguns ela havia ganhado em seu casamento, isso no século passado, tinha uns tão velhos que estavam amarelados parecendo aquela primeira urina da manhã, tinha também uns lacrados que já estavam secando, imagine isso lacrado e secando, quanto tempo não estaria ali naquele frasco?
Os aromas então, como tinha muita coisa vencida ficava um tanto difícil adivinhar que cheiro tinha em cada um daqueles frascos, uns suaves, outros apimentados, doces, salgados, tinham uns que tinham cheiro de coxinha de frango esquecida no forno, linguiça frita no porão e por ai vai.
Ela era muito vaidosa também, pó daqueles para passar no rosto ela tinha de tudo quanto é tipo e cor, era rosa claro, rosa escuro, marrom, era tanto pó que daria para cimentar um quintal todo e ainda ia sobrar massa para cobrir parede .
Moveis então, era uma mistura exótica e bizarra por toda a casa, coisas de tipos, cores e tamanhos diferentes, mesinhas, mesas, cantoneiras, cristaleiras etc.
Ela tinha mania de limpeza, cada vez que ia ao banheiro era um banho que tomava, e escovar os dentes então, ela ficava uns 10 minutos com aquela escova, para lá e para cá, para cima e para baixo, ficava com a boca espumando de tanto esfregar, deixava a escova parecendo cachorro com sarna.
Eu fico imaginando o que ela fazia depois de uma relação sexual, acho que colocava o negócio do meu tio de molho em água sanitária para uma boa limpeza e fazia um profundo banho de assento.
Eu fico imaginando o que ela fazia depois de uma relação sexual, acho que colocava o negócio do meu tio de molho em água sanitária para uma boa limpeza e fazia um profundo banho de assento.
Com tudo, com tudo, a tia, era muito legal, mesmo tendo as suas manias, suas esquisitices, até mesmo com aquele chocolate horrível que ela fazia, sinto saudades.
Antes de ir vou deixar essa pra você pensar :
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