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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Coisas da vida - Aonde esta a graça?

Existem 5 tipos de insônia – qual é a sua? - Mega Curioso

Poderia ser uma noite como uma outra qualquer, mas não era, o quarto estava escuro, e eu estava ali, deitado naquele sofá sem conseguir dormir.
O tic-tac de um relógio que havia na parede e a respiração dela eram as únicas companhias que eu tinha naquele momento.
Por vezes fechava os olhos tentando procurar o sono, quem sabe eu poderia encontrar ele ali dentro da escuridão que se fazia no quarto, mas foi em vão.
A luz que vinha de fora contornava a silhueta da porta e projetava fachos de luz pelas paredes, algumas vezes eu ouvia passos e vozes de pessoas que se perdiam ao longo do corredor e o sono não vinha.
Quando eu estava ali me desligando um pouco das preocupações e quase caindo nos braços de morfeu, um daqueles fachos de luz me tocou no ombro e perguntou:

- Ei Dió, percebi que você não consegue dormir, reparei também que esta um pouco preocupado, mas tenha certeza que o melhor já esta sendo feito.
Depois desse rápido contato, o facho de luz se perdeu dentro da escuridão do quarto do mesmo jeito que eu me perdia em meus pensamentos.
É difícil explicar os sentimentos que povoam o nosso espírito e nosso coração ao estar a noite em um quarto de hospital, fazendo "companhia" para uma mãe que esta no leito ao lado e com a saúde frágil.
A sua respiração me soava como um chamado, que vinha do tempo de quando eu era um menino:

- Filho, vem almoçar!
- Menino, cuidado com isso!
- Você não vai entrar para tomar banho?

Era isso que minha alma ouvia a cada respirar seu, naquele momento eu queria ter asas para subir aos céus e perguntar ao criador supremo do porque as coisas tem que ser assim?
Me faltavam as asas, mas não os pedidos!
Uma coisa que notei durante aqueles dias de visita, é que as mudanças intimas acontecem, cheguei a conclusão, que devia haver uma lei obrigando as pessoas a fazerem visitas a um hospital, pelo menos uma vez por ano, para elas levarem um pouco de conforto e atenção a aqueles seres que estão em um momento tão difícil e com a saúde tão fragilizada.
Aquilo que se vê lá, também faz parte dessa nossa vida real, as pessoas tratam isso como se fosse uma coisa que só acontecesse do outro lado do muro, quem sabe com esse contato, as pessoas pudessem ficar mais sensíveis e humanas e com isso deixar um pouco de se prender tanto a coisas desnecessárias, a futilidades e banalidades e quem sabe perceber que a vida é mais.
A cada conversa com a minha mãe, eu sentia a sua força em viver, o prazer em estar ao lados dos seus, a luta para retornar para a casa só pelo prazer de estar sentada ali no sofá jogando conversa fora, quem sabe dar um afago no cachorro, ver tv, essas coisas que parecem tão corriqueiras para alguns e que fazem parte de nossas vidas.
Isso parece tão pouco, mas você já parou para pensar, que existem milhares de pessoas nesses leitos de hospitais que só queriam ter a oportunidade de retomarem as suas vidas e de terem uma segunda chance.
Você lendo tudo isso se pergunta:

- Porra, este não é um blog de humor, cadê a piada, aonde esta a graça?

A piada? A piada aqui é a vida, uma senhora de 91 anos, 1: 60 de altura, minha mãe, lutando pela vida, enquanto isso milhares de pessoas se destroem nas drogas e com todo tipo de violência.
Mas a piada maior é essa senhora, me acordar as três da manhã, me pedindo para acompanha-la ao banheiro, ali, fico do lado de fora aguardando, depois de fazer as suas necessidades, ela lava as mãos, me chama, ela se se olha no espelho, observa, analisa, me chama e pede :

- Dió, me faz um favor, pega a escova, olha como meus cabelos estão despenteados.
Karla Krause: DESPENTEADA

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