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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Coisas da vida- Viu o Alfredão por ai?

Aquele dia era um dia igual a tantos outros, um detalhe me chamava a atenção, eu estava um pouco saudoso, as vezes a gente se encontra assim, afinal, não tem como se apagar a memória e descartar as lembranças.
Eu estava vendo coisas antigas, quando encontrei um convite, era da casa noturna em que eu trabalhei no período entre o fim da década de 70 e meados da década de 80.
Naquela época eu tinha um amigo inseparável, o Alfredão, esse foi um amigo que fiz ainda quando cursava a "oitava serie", ele estudava em outra sala e fizemos amizade através de amigos em comum.
O Alfredão era mais velho uns 4 anos, gente boa, bom amigo, ele era gordo, devia pesar uns 90 kg, tinha mais ou menos l:80 de altura, cabelos castanho escuro e tinha uma cara engraçada.
Era um bom camarada, foi através dele que comecei nos meados da década de 70 a trabalhar na área de eventos, em uma casa noturna aqui em São Paulo, capital.
No alto dos meus 16 anos, levei um “corno”, e que corno, de uma menina que eu "ficava", nessa época eu já frequentava uma outra famosa casa noturna aqui da capital, a Toco, foi lá que "tomei na cabeça", em relação a eu frequentar essas casas noturnas, nos fim dos anos 70 a coisa não tinha muito controle, e na cara de pau eu entrava.

O alfredão sempre dizia, vem visitar a casa noturna aonde eu trabalho, e eu sempre dizia que um dia quem sabe eu iria, mas, depois desse corno decidi mudar meu caminho, e em um fim de semana para não encontrar a tal que me sacaneou, fui conhecer a casa noturna.
Logo de cara gostei, casa lotada no mínimo uns 800 participantes por noite, comecei a frequentar direto, nunca um corno foi tão bem vindo, se não fosse aquele chifre, eu não teria ido lá, aié que se entende esses ditados populares :
Tem males que vem pra bem!
De cara fiz amizade com um dos sócios da casa e fui convidado para fazer a iluminação, esse sócio fazia o som eu a iluminação e o Alfredão cuidava da bilheteria, ai foi o começo de um passatempo que durou mais de 12 anos.
Eu já ganhava uma grana trabalhando, também estudava, e aos fins de semana ganhava mais uma grana da casa noturna, aquilo ali para mim era diversão, comecei a conhecer um monte de gente legal, festas, foi a união do útil ao agradável. O Alfredão era uma figura bizarra, além da casa noturna, ele também trabalhava em uma gráfica na Vila Aricanduva, Zona Leste de São, bairro aonde morei por muitos anos, ele fazia cartazes de anuncio de festas, bailes, casas noturnas.
Essa gráfica, foi uma das primeiras gráficas em São Paulo a fazer esse tipo de cartaz, vinha gente de todo canto de São Paulo, capital e interior, só para encomendar cartazes ali.
Era bem interessante, hoje o sistema de gráfico é todo digital, naquela época era todo manual, e dava um trabalhão.
Como eu não trabalhava aos sábados e a gráfica funcionava, eu passava aos sábados para papear com a turma que freqüentava a gráfica , ali se encontrava centenas de proprietários de casas noturnas, djs, artistas em geral de toda a cidade, ali eles faziam até cartazes de lutas “livres” que existiam na época.
Próximo aonde era a gráfica, existia uma padaria, ali tomávamos refrigerantes e cafés, se por um acaso você convidasse o Alfredão para um café, ele desligava tudo, encostava a porta da gráfica ia até a padaria, mas antes, ele ia até a pia, jogava uma água no embaixo do braço, passava o primeiro papel que ele encontrasse para secar o"subaco", credo, colocava a camisa e pronto, ele fazia isso sempre que tinha que sair ou fazer algo fora.
O problema do Alfredão era mal gosto em relação a escolha da mulherada, era cada baranga, do tipo que você só pode sair escondido e não deixar ninguém ver, as vezes ele arrumava alguma coisa mais ou menos, mas geralmente era fim de festa, e o que vinha ele traçava, a cabeça dele que pensava era a de baixo.
Carros então, cada mês ele aparecia com um, já teve fuscão preto, fusca verde, o cara teve um SP2 um carro dos anos 80 com linha arrojadas e diferente, imagine isso nos anos 80, era top, teve passat, corcel com a bola do cambio com uma luz vermelha dentro, isso é cult.
Era uma merda pior que a outra, como eu era menor e não podia ainda dirigir, para ir nas baladas, ele participava com o carro e eu com a gasolina e ajeitava umas garotas.
Qualquer evento ele vinha e falava :
Cara, tem um lugar maluco pra ir! Tá esperando o que? "Vambora"! Não tinha hora nem tempo ruim! A gente rodava São Paulo inteira, ia em tudo quanto era casa noturna, como ele produzia cartazes, ele conhecia tudo quanto é dono de casa noturna, não faltavam convites, geralmente as bebidas vinham também na faixa.
Saiamos do salão e íamos para tudo quando é lado, você queria se esconder de mim ficava na minha casa, fins de semana era direto fora, eu só chegava pelas manhãs.
No fim de semana a turma chegando para comprar pão e leite na padaria, eu tomando um lanche ou café, isso antes de eu ir para casa, é que eu ficava tão esgotado que era só chegar em casa e cair na cama, bons tempos, mas chegou uma época que essa correria começou a cansar.
Nos anos 80, a coisa começou a mudar, o Alfredão pinto de ouro, engravidou uma menina, assumiu a coisa, começou a namorar e foi se desligando de tudo, após isso eu comecei também a namorar sério com a minha amada, com quem eu vivo até hoje, quer dizer, ela me atura até hoje.
Ainda por um bom tempo fiquei na casa noturna a convite do diretor, mas, senti que as coisas mudaram e não era mais as mesmas, um amigo aqui, outro ali ia se desligando, até que eu também parei, e o ciclo se findou .
O Alfredão do dia para a noite desapareceu , perdemos o contato , vi ele mais umas duas ou três vezes, mas tudo havia se transformado, fiquei sabendo através de amigos, que ele foi pai de mais uns 2 ou três filhos, alguns anos depois eu me casei também, mudei de bairro, perdi os contatos e nunca mais soube do Alfredão, nem sei se ele esta vivo ou o que anda fazendo, foram bons tempos aqueles.
Já se passou mais de 25 anos, as vezes me vem na memória figuras, amigos, locais, sons, cheiros, é, o tempo passa rápido demais, o negócio agora é tocar em frente que a vida segue...